Cerca de 80% dos jovens são-tomenses querem abandonar o país em busca de melhores condições de vida, nomeadamente emprego e saúde, e muitos perderam esperança no desenvolvimento do arquipélago, indica um estudo do Conselho Nacional da Juventude são-tomense. Está a ser assim também em Angola, também… em todos os lados. As independências falharam.
O secretário-geral do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) de São Tomé e Príncipe, Laudino Tavares, afirma que “o estudo provou que 78% dos jovens querem migrar. Quando nós vemos uma percentagem desse nível, de jovens que pensam sair do país, enquanto plataforma da juventude, isso preocupa-nos e preocupa-nos imensamente”.
Segundo o responsável, os inquiridos apontaram como motivos de querer emigrar a necessidade de encontrar melhores condições de vida, questões ligadas à saúde, e outros “vão aventurar-se por falta de oportunidade de emprego” em São Tomé e Príncipe.
“Um jovem que eu inquiria na altura disse-me que ele prefere ir para viver de baixo da ponte. Ficar em São Tomé é que ele não fica. […] No fundo os jovens estão dispostos a sair do país, não importa para ir fazer o quê lá fora. O importante é sair”, relatou o líder juvenil são-tomense.
O estudo foi realizado em Julho do ano passado, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), quando São Tomé e Príncipe se preparava para as eleições legislativas, autárquicas e regional realizadas em 25 de Novembro. Segundo Laudino Tavares, o documento não teve acolhimento dos partidos concorrentes às legislativas, nem do Governo de então liderado pelo ex-primeiro-ministro Jorge Bom Jesus.
“Fizemos questão de enviar o resultado do inquérito para todos os partidos políticos, depositámos nas sedes dos partidos políticos para colocarem estas preocupações nos seus manifestos eleitorais e isso infelizmente não aconteceu”, lamentou.
Após as eleições, o Governo são-tomense que passou a ser liderado pelo primeiro-ministro Patrice Trovoada, líder da Acção Democrática Independente (ADI), que venceu as legislativas com maioria absoluta de 30 deputados.
O secretário-geral do CNJ considera que, apesar da alternância, a imigração juvenil não parou de crescer e “tem sido o ‘calcanhar de Aquiles’ nos últimos meses”.
“Indubitavelmente isso tende a agravar-se, porque eu converso com os jovens diariamente e o que eu percebo é que ninguém quer ficar no país. Quando se pergunta sobre as causas de emigração, já conhecemos, então é necessário criar condições para que os jovens não sintam essa necessidade de emigrar”, sublinhou Laudino Tavares.
“Muita gente acredita que não há sinal de criação de condições para que os jovens fiquem no país”, acrescentou.
O estudo realizado pela maior plataforma da juventude são-tomense concluiu também que “a não participação juvenil nas votações eleitorais tem como principais causas a corrupção política e ausência do cartão de eleitor”.
Ainda assim, o secretário-geral do CNJ sublinhou que os dados do inquérito provaram que muitos jovens votam e votaram, sobretudo nas eleições presidenciais de 2021.
“Costumávamos pensar que a taxa de abstenção em São Tomé e Príncipe era um problema que vivia no seio da juventude, mas o inquérito que nós fizemos prova o contrário. De acordo com os resultados do inquérito, os jovens são-tomenses participam sim nas eleições, porque nós concluímos que em cada 10 jovens, oito participaram na eleição presidencial de 2021”. Precisou Laudino Tavares.
Contudo, concluiu-se que “os jovens classificam a política em São Tomé e Príncipe como péssima” e “dizem que há muita corrupção”.
“Ao nível dos resultados do inquérito, os jovens não têm esperança quanto ao desenvolvimento do país. Isso é preocupante, é necessário que os líderes, que os governos comecem a pensar seriamente nisso para tentar devolver essa esperança à juventude, porque principalmente a juventude sem esperança é uma juventude morta e que está à deriva e disposta a ir para onde o vento a atirar”, referiu o secretário-geral do CNJ.
O estudo do CNJ foi entregue à nova ministra da Juventude e Desporto, Eurídice Medeiros, e tem sido analisado a nível do Governo.
Durante a campanha de auscultação da população para a preparação do Orçamento Geral do Estado, o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, admitiu a preocupação do executivo perante a vaga de emigração jovem.
“Se a maioria da população é jovem e se 78% dessa maioria quer abandonar o país então o país também não tem futuro. […] Nós não podemos impedir os jovens de sair, mas nós temos consciência de que se nós não fizermos alguma coisa para o jovem encontrar o seu futuro aqui, amanhã quando vamos precisar de um jovem para trabalhar, não teremos jovens para trabalhar”, disse Patrice Trovoada durante a conversa com populares no distrito de Cantagalo.
O chefe do Governo são-tomense prometeu a realização de um inquérito para ouvir as ideias dos jovens a fim de “definir uma política que possa resolver o problema”.
Na sexta-feira, o ministro da Saúde são-tomense, Celsio Junqueira, disse à Lusa que o sistema de saúde de São Tomé e Príncipe está com carência de profissionais devido ao aumento da emigração de quadros para Portugal desde a facilitação de visto no âmbito do acordo de mobilidade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
“Desde que Portugal tornou fácil o acesso à entrada, muitos profissionais de saúde têm saído, então alguns serviços começaram a estar em causa, deixaram de ter o mínimo que é necessário para trabalhar e garantir qualidade de serviço”, disse Celsio Junqueira.
Face à “vaga de emigração”, o ministro da Saúde, Trabalho e Assuntos Sociais foi autorizado pelo Governo a proceder à contratação de profissionais reformados para compensar a saída de quadros.
TODOS QUEREM FUGIR DO PARAÍSO (DO MPLA)
Portugal é porta de entrada na Europa para muitos jovens angolanos, que, “desesperados” pela falta de emprego e melhores condições de vida, apesar de o Presidente da República (João Lourenço) dizer que o país é (quase) um paraíso, no que é corroborado pelo Presidente do MPLA (João Lourenço) e pelo Titular do Poder Executivo (João Lourenço), dizem-se ávidos em emigrar para o espaço europeu por “faltar quase tudo” em Angola.
Buscar melhores condições de vida, oportunidade de emprego, formação qualificada ou turismo são os propósitos de muitos jovens que acreditam em dias melhores, mas fora do território angolano que, como se sabe, é “excelentemente” governado há 47 anos pelo MPLA.
O número de angolanos (assim considerados pelo MPLA) em Portugal aumentou mais de 50% em dez anos. Em 2022, viviam em Portugal 31.435 cidadãos angolanos segundo dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Os jovens querem imigrar para Portugal por ser a “porta de entrada para Europa” e por “falta de esperança” no futuro do seu país que é governado pelo MPLA desde a independência.
Angola fazia parte das cinco primeiras nacionalidades mais representativas em Portugal a 31 de Dezembro de 2012, depois do Brasil, Ucrânia, Cabo Verde e Roménia, com um total de 20.366 cidadãos residentes.
Dez anos depois, mais 11.069 angolanos escolheram Portugal para residir, totalizando 31.435, dos quais mais de metade preferiu Lisboa (17.440), seguindo-se Setúbal (5.821) e Porto (2.285).
As cidades de Braga (905), Santarém (893) e Coimbra, com 712 cidadãos, têm menos de mil angolanos a viver. Madeira (40), Açores (41), Portalegre (57) e Guarda (59) são as localidades que registam menor número de cidadãos angolanos residentes.
Os dados referentes ao último ano, disponibilizados pelo SEF, apontam que a maior parte dos angolanos residentes em Portugal é jovem na faixa etária entre os 20 e os 39 anos, totalizando 12.158 cidadãos. Angolanos entre os 40 e 64 anos (10.150 cidadãos) era o segundo maior grupo etário residente em Portugal, em 2022.
Pelo menos 7.071 angolanos até aos 19 anos residiam em Portugal no último ano, contando-se também com 308 angolanos de 80 anos e mais.
De acordo ainda com o SEF, 54 angolanos fizerem pedidos de protecção internacional, em 2022, mas não obtiveram acolhimento pelas autoridades migratórias lusas, por serem “infundamentados”.
Cresce em Luanda a pretensão de cidadãos angolanos, sobretudo jovens, de emigrarem para Portugal, que consideram “porta de entrada para Europa”, em busca de melhores condições de vida, desde estudos e emprego, por “falta de esperança” no seu país que continua a privilegiar a subserviência partidária (logo a empregabilidade) em detrimento da competência.
A “falta de esperança” em Angola motivou um grupo de jovens a criar o denominado “Movimento Cívico Vamos Sair de Angola”, centrado na troca de informações sobre emigração, com o Canadá, Turquia, Portugal e Brasil entre os destinos pretendidos.
O movimento criado há um mês, por mais de 20 jovens estudantes e trabalhadores, que também desejam emigrar, serve como um canal de informação sobre os procedimentos internos e externos para emigrar, desde o tratamento do passaporte ao visto para o país de destino.
Folha 8 com Lusa
Foto: Anthony Uchalla